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sábado, 7 de novembro de 2009

Cego Que Não Enxerga

Acho incrível como os animais lidam com algum “superior”...

Os cachorros se submetem às mais idiotas ordens dadas pelos seus donos a troco de um petisco, enquanto a sua natureza é esquecida; os pássaros se submetem às gaiolas e a cantar durante o dia inteiro em troca de alpiste e “segurança” contra felinos e alguns répteis, enquanto a sua natureza é esquecida; os cavalos permitem que os explorem, forçando-os a levar cargas que não são suas, em troca de ração, água fresca e um pouco de pasto, deixando de lado a sua natureza...

Existe um animal, o mais engraçado de todos, que aceita todo tipo de ordem com o rabo entre as pernas, ficando preso em gaiolas e levando chicotadas por não fazer direito o que não é seu dever, em troca de comida, água, segurança e um espaço verde para passar momentos de lazer, deixando de lado a sua natureza... Coitado desse animal, é apenas um pobre cego... E há quem pense que fui redundante no título...


Guilherme Henrique Miranda
São Vicente, 7/11/2009

terça-feira, 3 de novembro de 2009

Algo Comovente - A Ingrata Ingratidão

Uma criança chorando.

Não, leitor. Não adianta procurar nas linhas seguintes algo que lhe comova. O que há de comovê-lo é o choro da criança, na verdade o que a fez chorar.

Para Mário Quintana e qualquer outro escritor consciente, bom leitor é aquele que ao se deparar com uma simples frase, continua a leitura em seus pensamentos, num plano metafísico, num mundo real, pois nele somos quem somos, deixamos máscaras de lado.

Caro leitor, não me diga que, com a frase inicial, você não conseguiu ouvir uma criança contar o porquê do choro. Você não ouve o choro da criança que não tem o que comer? E quanto ao choro da criança que sofre abusos sexuais quando o pai está bêbado? O que dizer daquelas que choram por ver seus irmãos caídos no chão devido uma overdose? O que mais consegues ouvir, ou já estás surdo a ponto de não ouvir o clamor dos outros?

Porém, o choro mais forte que ouço nessa frase é o da criança – bendito ser superior aos adultos – que chora por perceber que foi colocada nesse ingrato mundo de ingratos seres, que vivem ingratas vidas, que não percebem a ingratidão de seu coração ao ler o ingrato texto desse ingrato escritor que apenas quer mostrar a ingratidão daqueles que aprisionam a criança interior ao tampar ingratamente os seus ouvidos para o choro das ingratas crianças...


Guilherme Henrique Miranda
São Vicente, 3/11/2009