Uma criança chorando.
Não, leitor. Não adianta procurar nas linhas seguintes algo que lhe comova. O que há de comovê-lo é o choro da criança, na verdade o que a fez chorar.
Para Mário Quintana e qualquer outro escritor consciente, bom leitor é aquele que ao se deparar com uma simples frase, continua a leitura em seus pensamentos, num plano metafísico, num mundo real, pois nele somos quem somos, deixamos máscaras de lado.
Caro leitor, não me diga que, com a frase inicial, você não conseguiu ouvir uma criança contar o porquê do choro. Você não ouve o choro da criança que não tem o que comer? E quanto ao choro da criança que sofre abusos sexuais quando o pai está bêbado? O que dizer daquelas que choram por ver seus irmãos caídos no chão devido uma overdose? O que mais consegues ouvir, ou já estás surdo a ponto de não ouvir o clamor dos outros?
Porém, o choro mais forte que ouço nessa frase é o da criança – bendito ser superior aos adultos – que chora por perceber que foi colocada nesse ingrato mundo de ingratos seres, que vivem ingratas vidas, que não percebem a ingratidão de seu coração ao ler o ingrato texto desse ingrato escritor que apenas quer mostrar a ingratidão daqueles que aprisionam a criança interior ao tampar ingratamente os seus ouvidos para o choro das ingratas crianças...
Guilherme Henrique Miranda
São Vicente, 3/11/2009
5 comentários:
Ingrato! ¬¬'
Isso me lembrou meu final de semana..
e pude escutar e ver um pouco do choro de crianças ..
uma em especial, que viu sua mãe ser espancada pelo padrasto e nos pediu oração pela sua familia.
Esse texto esta me fazendo chorar..
Nossa!
Muito bom!!!
Oootimo!
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