Páginas

sexta-feira, 31 de outubro de 2008

Teoria Dos Três Minutos

Lembro-me de quando ouvi uma pregação que comparava a igreja de Cristo com a arca de Noé. E, a parte que mais me marcou, foi quando o pastor que pregava disse: “Por mais que existissem problemas dentro da arca, lá era o único lugar que tinha vida em toda a Terra. Da mesma forma a igreja, nós temos a vida aqui dentro, a vida eterna”.

Deus não cobrou o sangue daqueles que morreram das mãos de Noé por um simples motivo, Noé fez a parte dele, foi justo aos olhos de Deus mesmo quando o mundo inteiro estava caminhando em outra direção. Deus deu oportunidade para que os que seguiam o mau caminho se arrependessem e voltassem ao caminho de justiça, mas, nenhum o fez, somente Noé e sua família.

A igreja é o lugar onde tem vida, é a arca de Noé moderna. Somos responsáveis por divulgar essa mensagem de salvação, caso contrário, Deus cobrará o sangue dos que morrerem de nossas mãos (Ezequiel 3:18-20). Deus está nos dando chances de cumprirmos com nossa parte. Ele ainda não fechou a porta da arca, mas, felizmente/infelizmente logo Ele o fará. Aqueles que estão dentro da arca serão salvos, mas aqueles que estão fora sofrerão a morte eterna.

Estamos tão acostumados a usar de desculpas medíocres para não pregarmos o evangelho. Quem nunca usou a desculpa, “estava sem tempo”? Pois bem, gostaria de lembrar-nos (incluo-me nessa) que Jesus passou três anos ensinando o que teríamos de anunciar nas boas-novas. E o que temos feito? Temos distorcido esse evangelho pregando a Teologia da Prosperidade (Deus te dará tudo), a Teologia da Abominação ao Inferno (Se você não aceitar a Jesus, você vai para o inferno) ou então a Teologia das Vantagens (Aceite a Jesus que você irá para o céu, um lugar maravilhoso). Que eu saiba e tenha lido na Bíblia, Jesus nunca anunciou essas tais teologias que temos pregado. Ele anunciava um evangelho simples e direto, um evangelho de salvação e arrependimento dos pecados.

Jesus passou três anos nos ensinando como deveríamos pregar e passou três dias entre os mortos para nos trazer vida. O tempo que Ele passou nos ensinando foi muito maior do que o tempo gasto por Ele para salvar a humanidade, mas, mesmo assim, achamos que é algo tão complicado pregar por três minutos.

O dízimo é um lembrete de que todo o resto é de Deus. Não seria o caso de criarmos um “dízimo” de nosso tempo para evangelizarmos alguém? Se investíssemos três minutos de nosso dia para falar de Cristo a alguém que ainda não O conhece, em um ano alcançaríamos 365 pessoas.



Guilherme Henrique Miranda
05/03/2008

Adorar: Seguir O Coração De Deus

Meu livro bíblico preferido sempre foi Salmos. Acho que me identifico com a linguagem poética utilizada nele, mas independente disso, sempre considerei Davi um homem segundo o coração de Deus. Podes me perguntar: “Como pode isso, um pecador ser segundo o coração de Deus? É impossível, não?” Não! Não é impossível, pelo contrário, é algo simples de se entender.

No Salmo 51:10, Davi pede que Deus crie nele um coração puro. O que será que isso quer dizer? Animado pela dúvida, resolvi pesquisar o contexto histórico e social judaico. Conversei com o doutor em Antropologia Luís Vicente para tentar esclarecer os contextos supracitados. Foi então que pude entender um pouco a respeito do “coração” que a Bíblia tanto fala.

Para nós, latinos, e para os anglicanos, o coração está ligado à imagem do sentimento. Facilmente encontramos pessoas representando o amor com um coração, como na célebre frase americana “I (coração) NY”, ou então o ódio com um coração partido. Já para os povos do Oriente Médio e região, isso inclui os judeus, o coração está ligado às vontades e desejos.

Analisando pela visão judaica da palavra, ao dizer que queremos ter um coração como o de Deus, nós estamos afirmando que queremos viver pela vontade Dele!

Davi escreveu esse Salmo depois de que o profeta Natã o exortou por ter cometido adultério e um homicídio (II Samuel 11 e 12). Um homem que teve suas vontades, seu coração, atendidas, agora percebia o que havia feito e pedia vontades puras para si. Davi se arrependeu e quis mais de Deus para sua vida, quis viver as vontades Dele!

No Salmo 51:17, Davi diz que Deus deseja um coração quebrantado, não sacrifícios! Deus não se agrada tanto com nossas orações, nossos louvores, nossos deveres e tarefas. Deus quer o nosso coração humilhado, quebrantado, entregue, rendido diante Dele. Isso sim é adoração! Deus quer que O adoremos em espírito e em verdade (João 4:23-24). Deus não quer apenas nossas ações, Ele nos deseja por inteiro, como sacrifícios vivos (Romanos 12:1).

Deus já possui a adoração dos anjos, por qual motivo Ele faria questão de nossa adoração? Porque a nossa forma de adorá-Lo é viver na vontade Dele, segundo o que Ele deseja. Deus quer nosso coração, isso é adorar!



Guilherme Henrique Miranda
São Vicente, 29/10/2008

O Que Eu Não Vejo

Eu é que sei que pensamentos tenho a vosso respeito, diz o SENHOR; pensamentos de paz e não de mal, para vos dar o fim que desejais. (Jeremias 29:11 )


Recentemente vivi uma situação inusitada. Ano passado foi meu ano de vestibular, prestei em diversas faculdades, mas desde minha infância eu dizia que faria faculdade na USP. Não tive apoio dos meus ex-professores e grande parte dos meus amigos disse que não daria em nada, afinal eu sempre estudei em escola pública e não teria condições de passar em um vestibular tão concorrido.

Para a surpresa de muitos, eu passei na USP e em outras faculdades. Porém, não tive condições financeiras de me mudar para outra cidade ou de ir e voltar todo santo dia. Na hora eu não compreendi, deixei a ira contra Deus apossar-se de mim e resmunguei até cansar e não conseguir mais falar. Quando me calei e acalmei-me, esse texto de Jeremias me veio à mente. Conheço o contexto cujo qual o texto fala (cativeiro da Babilônia), mas a carta que servia de consolo aos cativos em uma terra estranha, agora servia para o meu consolo.

Era como se Deus dissesse a mim: - Filho querido, por que te iras? Por acaso não confias em mim? Por acaso não sou eu o Deus da tua salvação? Talvez não compreendas o hoje, mas Eu já conheço o teu fim, Eu o preparei da melhor maneira para ti. Não te preocupes, pois Eu estou contigo.

Eu não podia mais irritar-me com essa situação. Meu Pai estava zelando por mim e pelo meu futuro. Outro texto bíblico me veio à mente, quando Pedro diz a Jesus que está pronto a segui-Lo até a prisão e à morte (Lucas 22:33). Para Pedro o momento que ele estava vivendo com Jesus era o bastante, mas Deus sabia que não era. Pedro estava satisfeito com a companhia de Jesus, mas Deus queria dar a ele e a todos nós a salvação, a purificação de nossos pecados e a companhia de Cristo sempre!

Por tantas vezes deixo o hoje cegar-me e impedir-me de enxergar o que Deus deseja. Por tantas vezes sou como Pedro, querendo o que tenho hoje sem saber o que terei amanhã. Ah Deus, dá-me paciência e calma para esperar o Teu querer em mim.



Guilherme Henrique Miranda
São Vicente, 30/10/2008

domingo, 5 de outubro de 2008

DIÁLOGO DO POETA E DO BARDO

Onde foi que eu perdi minha face?
Onde foi que eu me perdi de ti?
Quando foi que virei essa fraude?
Quando deixei escapar meu álibi?

Reencontro-me com fotos e poesias,
E hoje sou o que eu não era.
Lembro-me da última primavera...
Minhas lembranças são tão perdidas.

Angústia de meu peito,
Aflição da minh’alma!
Ardente anseio de voltar atrás.

Agonia condenada...
Amargura inacabada...
Martírio de ser imortal...


[Condolências, caro poeta,
Mas, pagarás o preço até o arremate final.
Teu sangue é o preço,
E o teu verso é sangue!

Sorrirás na tristeza,
Sorrirás na alegria,
Esse é o preço, caro amigo,
Do dom eterno da tua poesia.

Reclamas de sofrer,
E o aturas por reclamar.
Aprenda o que é realmente viver,
Então aprenderás a se calar.

Cada palavra tua é essência.
E a cada gota dela, morres!
Tua fonte é inesgotável,
Tu és eterno, eterno e imortal...

Não te digo isso para trazer aflição,
Nunca o almejaria a mim próprio.
És poeta, és inacabável, és perene!
Aproveite o dom e o viva,
Pois ele é para sempre... ]



Não te preocupes com o caminho que sigo,
Sou teimoso, cabeçudo, birrento...
Por mais que eu saiba do fim no abismo,
Sigo, ando, me movimento!

Não me convencerás a parar,
Se eu quiser, resmungarei, é certo!
Pois só eu sei a dor que é amar,
Sem nem ao menos sentir o amor por perto...

Dizes que sou eterno? Mas errado estás!
Quem és tu, bardo, para assim o definir?
Meus sentimentos e poemas podem ser,
Mas para mim, a eternidade e o eterno não são cabíveis.
Por acaso a carne e o sangue são incorruptíveis?

Se eu sofro, sorrirei...
Se eu amo, sorrirei...
Se eu odeio, sorrirei...
Se me alegro, sorrirei...

Minha curta vida já me ensinou algo,
Sorrir sempre, pois não sei até quando poderei fazê-lo...


[Bem o disseste, tua curta vida...
Sabes que ela não é longínqua.
Mas do que vale ela, então?
Nascer, viver e morrer? Isso é existência!]



Sim, isso é existir!
Mas, caro amigo,
Não é assim comigo.

Eu não existo, eu vivo!
Nasci, senti, vivi e partirei,
E em minha lápide estará:
“Foi homem que amou e expressou o amor,
Foi homem que odiou, mas perdoou,
Foi homem que viveu, e a vida aproveitou!”


[Bravo, bravo, bravíssimo.
Quase arrancaste uma lágrima minha!
Mas, se tanto prezas a vida,
Por que queres retornar à outrora passada?
Não és feliz, poeta?]



Eu voltaria ao passado para vivê-lo ainda mais intensamente,
Não desprezando os momentos que tive e perdi,
Não deixando passar as oportunidades.
Voltar no tempo para viver de novo a alegria profunda
Que uma grande paixão é capaz de trazer.

Falas tão mal da vida,
Qual é o motivo?


[Inveja, caro poeta...
Tu vives, enquanto eu apenas existo em ti!
Nunca amei de verdade, nunca eu sorri...]



Faça como eu, bardo...
Volte-se para si mesmo,
Converse consigo.
Volte-se às memórias que tiveste...


[Memórias? E lá eu as tenho?]


Faço de tuas palavras as minhas:
“Condolências, caro poeta,
Mas, pagarás o preço até o arremate final.
Teu sangue é o preço,
E o teu verso é sangue!”


[Usas da ironia comigo?
Percebo que não conheces a dor de não viver...
Não conheces a dor de apenas ser dentro de outrem,
Tu vives, eu sobrevivo!]



És tão tolo, bardo!
Não percebes que fazes parte de mim?
Cada lembrança que tenho, é tua também!
Se eu vivo, tu vives do mesmo modo que eu...
Apenas te cobres com o disfarce dos versos e estrofes,
Dos sonetos e das rimas...

Tua essência é a mesma que a essência que possuo.
Se eu sou, tu também és.
Se eu sinto, tu também sentes.
Não te achas néscio por não perceber isso?


[Perdoe-me, poeta...
Esqueci quem realmente sou!
Esqueci que sou parte de um todo,
Não um todo de uma parte!]



Não tenho o que perdoar,
Quem nunca se questionou sobre isso?
E, sinceramente, nem eu sei na verdade quem eu sou!


[Agora o tolo és tu, poeta...
Não precisas ter o conhecimento de quem és,
Apenas seja o que tu és, pois isso é viver!]



Percebo que apreendeste o que tentei te dizer...


 [Aprendi sim:
“Viver é essência do ser!”.]




Guilherme Henrique Miranda
São Vicente, 03/10/2008