Onde foi que eu perdi minha face?
Onde foi que eu me perdi de ti?
Quando foi que virei essa fraude?
Quando deixei escapar meu álibi?
Reencontro-me com fotos e poesias,
E hoje sou o que eu não era.
Lembro-me da última primavera...
Minhas lembranças são tão perdidas.
Angústia de meu peito,
Aflição da minh’alma!
Ardente anseio de voltar atrás.
Agonia condenada...
Amargura inacabada...
Martírio de ser imortal...
[Condolências, caro poeta,
Mas, pagarás o preço até o arremate final.
Teu sangue é o preço,
E o teu verso é sangue!
Sorrirás na tristeza,
Sorrirás na alegria,
Esse é o preço, caro amigo,
Do dom eterno da tua poesia.
Reclamas de sofrer,
E o aturas por reclamar.
Aprenda o que é realmente viver,
Então aprenderás a se calar.
Cada palavra tua é essência.
E a cada gota dela, morres!
Tua fonte é inesgotável,
Tu és eterno, eterno e imortal...
Não te digo isso para trazer aflição,
Nunca o almejaria a mim próprio.
És poeta, és inacabável, és perene!
Aproveite o dom e o viva,
Pois ele é para sempre... ]
Não te preocupes com o caminho que sigo,
Sou teimoso, cabeçudo, birrento...
Por mais que eu saiba do fim no abismo,
Sigo, ando, me movimento!
Não me convencerás a parar,
Se eu quiser, resmungarei, é certo!
Pois só eu sei a dor que é amar,
Sem nem ao menos sentir o amor por perto...
Dizes que sou eterno? Mas errado estás!
Quem és tu, bardo, para assim o definir?
Meus sentimentos e poemas podem ser,
Mas para mim, a eternidade e o eterno não são cabíveis.
Por acaso a carne e o sangue são incorruptíveis?
Se eu sofro, sorrirei...
Se eu amo, sorrirei...
Se eu odeio, sorrirei...
Se me alegro, sorrirei...
Minha curta vida já me ensinou algo,
Sorrir sempre, pois não sei até quando poderei fazê-lo...
[Bem o disseste, tua curta vida...
Sabes que ela não é longínqua.
Mas do que vale ela, então?
Nascer, viver e morrer? Isso é existência!]
Sim, isso é existir!
Mas, caro amigo,
Não é assim comigo.
Eu não existo, eu vivo!
Nasci, senti, vivi e partirei,
E em minha lápide estará:
“Foi homem que amou e expressou o amor,
Foi homem que odiou, mas perdoou,
Foi homem que viveu, e a vida aproveitou!”
[Bravo, bravo, bravíssimo.
Quase arrancaste uma lágrima minha!
Mas, se tanto prezas a vida,
Por que queres retornar à outrora passada?
Não és feliz, poeta?]
Eu voltaria ao passado para vivê-lo ainda mais intensamente,
Não desprezando os momentos que tive e perdi,
Não deixando passar as oportunidades.
Voltar no tempo para viver de novo a alegria profunda
Que uma grande paixão é capaz de trazer.
Falas tão mal da vida,
Qual é o motivo?
[Inveja, caro poeta...
Tu vives, enquanto eu apenas existo em ti!
Nunca amei de verdade, nunca eu sorri...]
Faça como eu, bardo...
Volte-se para si mesmo,
Converse consigo.
Volte-se às memórias que tiveste...
[Memórias? E lá eu as tenho?]
Faço de tuas palavras as minhas:
“Condolências, caro poeta,
Mas, pagarás o preço até o arremate final.
Teu sangue é o preço,
E o teu verso é sangue!”
[Usas da ironia comigo?
Percebo que não conheces a dor de não viver...
Não conheces a dor de apenas ser dentro de outrem,
Tu vives, eu sobrevivo!]
És tão tolo, bardo!
Não percebes que fazes parte de mim?
Cada lembrança que tenho, é tua também!
Se eu vivo, tu vives do mesmo modo que eu...
Apenas te cobres com o disfarce dos versos e estrofes,
Dos sonetos e das rimas...
Tua essência é a mesma que a essência que possuo.
Se eu sou, tu também és.
Se eu sinto, tu também sentes.
Não te achas néscio por não perceber isso?
[Perdoe-me, poeta...
Esqueci quem realmente sou!
Esqueci que sou parte de um todo,
Não um todo de uma parte!]
Não tenho o que perdoar,
Quem nunca se questionou sobre isso?
E, sinceramente, nem eu sei na verdade quem eu sou!
[Agora o tolo és tu, poeta...
Não precisas ter o conhecimento de quem és,
Apenas seja o que tu és, pois isso é viver!]
Percebo que apreendeste o que tentei te dizer...
[Aprendi sim:
“Viver é essência do ser!”.]
Guilherme Henrique Miranda
São Vicente, 03/10/2008
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