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segunda-feira, 28 de setembro de 2009

Certo Não, Menos Errado!

Sábado, dia 19/9/2009, estava eu andando na rua por volta de 19h40. Como já é de costume, eu estava distraído, ouvindo música no volume máximo que o celular permite. Mesmo distraído eu consigo ficar atento ao mundo ao meu redor - sim, eu sei que isso parece um tanto paradoxal -, sendo assim, parei no semáforo e olhei uma cena intrigante. Narrarei o fato a seguir:

O semáforo era de três tempos, ou seja, uma mão está verde e as outras duas vermelha. À minha direita vinha um ciclista, que olhou para a direção da mão livre ao tráfego e passou o sinal vermelho. Na perpendicular, vinha um motociclista, que olhou para a mão livre ao tráfego e passou o sinal vermelho. O encontro entre a moto e a bicicleta era inevitável, eu não poderia fazer nada, apenas parei e assisti a cena de camarote. Não, essa não é a cena "intrigante" de que falei no parágrafo anterior, ela se deu logo após esse acidente.

A batida foi leve, não houve ferimentos, mortes ou sangue, como alguns estavam esperando. O que eu realmente quero trazer a vocês, leitores, é o diálogo entre o ciclista e o motociclista:

- Pow, cara! Como tu atravessa o vermelho daquele jeito?
- Eu olhei, véio! Eu olhei e não tinha nada vindo! Tu que atravessou o sinal!
- Sem essa! O semáforo ia abrir pra mim em seguida, brother!
- E o semáforo tinha acabado de fechar pra mim, cara! Tu tá chapado?
- Tu bate em mim e eu tô chapado?
- Caracas... Tu que se enfiou na minha frente, véio!
- Eu? Já disse: o semáforo ia abrir pra mim quando a outra mão fechasse!
- Eu também já disse, cara! O semáforo tinha acabado de fechar pra mim!

Acho que vocês perceberam que eu alterei um pouco o diálogo, tirando os termos perjorativos que ambos usaram, né? Enfim... O diálogo continuou, mas eu não fiquei para ouvir... Segui o meu caminho rindo e dizendo para mim mesmo:

- É, ser humano... Como podes ser tão idiota? Por nunca estar certo, debates para ver quem é o menos errado...



Guilherme Henrique Miranda
São Vicente, 28/9/2009

terça-feira, 15 de setembro de 2009

A Intolerância

José das Dores nasceu em uma pequenina cidade perdida pelo interior de nosso país. Teve uma infância difícil, trabalhava em uma mina de carvão para ajudar a sustentar seus sete irmãos. Filho de mãe solteira, nunca conheceu seu verdadeiro pai, era um bastardo. Para compensar, José chamava de pai qualquer um dos diversos homens com quem sua mãe saía. Nunca teve a sorte de possuir o mesmo pai por mais de 11 meses: era só a barriga da mãe crescer e pronto, o “pai” picava a mula.

Mesmo tendo de trabalhar para sustentar sua família, José das Dores decidiu estudar. Não tinha dinheiro para comprar o material escolar que os demais alunos possuíam e, por isso, virou motivo de chacotas na escola. Como ele poderia esquecer da risada e piadinhas das outras crianças? Ele recordava, principalmente, de um dia quando o professor o humilhou diante de toda a turma: colocou-o de frente à parede trajando um chapéu com duas orelhas de burro.

Certo dia, o dono da mina de carvão tentou abusar sexualmente de José das Dores; contudo, a sua agilidade o salvou: ele se soltou das garras do homem, pegou uma barra de ferro e acertou em cheio a testa daquele tirano. Depois de agredir o patrão, José teve de fugir da mina. Correu aos prantos para casa buscando o abrigo da mãe. Ao chegar a casa, teve uma grande surpresa: a mãe o repreendeu, deu-lhe uma boa surra e o mandou de volta à mina para pedir desculpas ao chefe e dizer que ele acataria a todas as ordens, fosse elas quais fossem. Prefiro abster-me de lhes contar o que aconteceu daquele dia em diante na mina de carvão.
José das Dores teve de conter sua amargura para não prejudicar sua família, teve de tolerar as piadinhas na escola para não prejudicar seu sonho de modificar o futuro que todos diziam que ele teria, teve de tolerar os pés que passavam sobre ele constantemente.

Finalmente ele concluiu o ensino fundamental. Mas, ao contrário do que ele pensara, sua vida não mudou para melhor. Faltavam-lhe oportunidades de emprego, faltava-lhe uma chance para demonstrar o seu verdadeiro valor. Se você, leitor, achou a história de José das Dores triste até agora, não consegue sequer imaginar o sofrimento que lhe estava reservado.

Como todos devem saber, a exposição humana ao dióxido de carbono (CO²) em locais confinados, gera problemas respiratórios. José das Dores descobriu isso da pior maneira: de modo prático. Aquela negra e densa fumaça apossou-se de seus pulmões, trazendo mal estar, fraqueza e uma tosse que mais parecia navalhas cortando seu peito.

Alguém consciente denunciou a mina de carvão ilegal e logo a polícia, agentes da saúde, agentes tutelar e a televisão apareceram. O causo de José das Dores ficou conhecido no país inteiro. Infelizmente os jornais tiveram de noticiar sua morte. Seria apenas mais uma pessoa morta pela intolerância humana, mas o prefeito da cidade tentou se redimir de uma forma inusitada, para não dizer irônica.

Hoje, José das Dores é o nome de uma rua naquela pequenina cidade afastada e perdida no interior de nosso país. Agora que José das Dores é uma rua, ele poderá dar continuidade àquilo que ele sempre fez em sua vida: ser pisado por todos os que o conheciam e pela intolerância humana.


Guilherme Henrique Miranda
Santos, 14/9/2009

domingo, 13 de setembro de 2009

Flores No Ar... Borboletas No Chão...

Tchau! Sim, tchau! Oras... E por que eu tenho de começar um diálogo com uma saudação? Quem definiu que tchau é uma saudação de despedida e olá uma saudação de chegada? Teto... Quem colocou o nome dele de teto? T-E-T-O... Por que não “toté”, eu acho que soa melhor, viu?

Pois é, caros leitores... Além de descobrir que seremos eternamente dependentes nessa vida e de que nunca alcançaremos a sonhada liberdade, hoje eu percebi que nem os nossos pensamentos são livres, afinal de contas, o nosso vocabulário e a idéia que temos de cada coisa, são estipulados por alguém. Um dia me disseram que som é aquilo que eu ouço, e não aquilo que eu vejo. Mentira! Deixem-me enxergar o que eu ouço, sentir cada nota de uma música, degustar a voz de Elis Regina, sentir a sutileza e a doçura da música de Villa-Lobos... Ao menos deixem minha mente ser livre e decidir as coisas por si só!

Já que não preciso de Dom Pedro para isso, declaro hoje a independência de minha mente! Ou ficar as idéias livres, ou morrer pela liberdade delas. E, para começar a exercer meu direito, eu digo:

-Flores são enfeites que estão ao chão... Borboletas são enfeites que estão ao ar! Flores no ar... Borboletas no chão...


Guilherme Henrique Miranda
São Vicente, 13/9/2009

quinta-feira, 10 de setembro de 2009

A Liberdade

Olá, meu nome é Liberaldo. Ainda que você, leitor, não me tenha dado liberdade, farei um relato de uma odisséia que enfrentei para alcançar o objeto de maior valor para o ser humano: o direito de ser livre!
        
Como espermatozóide, lutei contra milhões de semelhantes, tive de ser o mais rápido naquela corrida pela liberdade, e eu venci. Cheguei à frente de todos, mas, para minha surpresa, não tive o prêmio esperado. Ao invés da almejada liberdade, deparei-me com uma prisão. Fui condenada a nove meses de prisão – acho que algum dos meus adversários era parente de alguém importante e, por isso, me trancafiaram –, em uma úmida, escura e abafada cela. Não aceitei a decisão tão facilmente assim. Exigi o meu direito de ser livre através de chutes e pontapés! Resultado? Enfim liberdade? Não, uma nova prisão!
        
Nessa nova etapa que tive de encarar, foi-me dada uma vestimenta diferente. Com essa nova roupa, eu pude sentir sensações que eu ainda não conhecia. Os carcereiros falavam sobre tato, audição, olfato, visão e paladar, algo assim. Não vou mentir, adaptei-me à roupa e gostei tanto que até hoje a utilizo, numa versão maior, lógico. Tudo seria perfeito, se não fosse o fato de não conseguir me locomover como eu gostaria. Com o passar do tempo, adquiri a habilidade que os carcereiros chamam de engatinhar e, depois, a de andar. Mesmo com esse “presente”, não alcancei a sonhada liberdade, o que me fez protestar com gritos e choro durante a madrugada. Aprendi a me comunicar com os carcereiros e, aos poucos, comecei a entender o mundo deles. Muitas vezes me parecia complicado, mas eu sempre tinha uma pergunta que resolvia essas dúvidas: “por quê?”. Esse conhecimento que eu estava adquirindo aquietou por algum tempo a grande busca de minha vida, porém logo voltei meus olhos ao foco e quis a liberdade.
        
Esperei durante anos, e finalmente entendi o que era a liberdade para os carcereiros. Por mais que eles me dissessem que ainda não era o tempo para eu me tornar livre, não liguei e, com todo o direito de minha adolescência, reivindiquei os meus direitos – como se isso existisse no mundo dos carcereiros – e pedi a minha liberdade. Eles tentavam me convencer que a liberdade de um prisioneiro criança é muito melhor que a liberdade de um prisioneiro adulto, mas não dei ouvidos. Sem escolha, o casal de carcereiros me liberou.
        
Vitória! Finalmente alcancei a tão sonhada liberdade. Agora que sou realmente livre, tenho de adaptar-me a algumas regras que me foram impostas sem eu nem ao menos ter assinado qualquer documento ou entrado em acordo com alguém. Agora que sou livre, sou obrigado a fazer coisas que eu não fazia e que, muitas vezes, nem quero fazer. Agora que sou livre, tenho o direito de ir e vir garantido por uma tal de “constituição”, mas só se assim me permitirem. Enfim sou livre! Enfim sou dono de mim! Enfim alcancei a total e plena liberdade!


Guilherme Henrique Miranda
Santos, 9/9/2009

quarta-feira, 9 de setembro de 2009

Análise Sincera E Crua

Infância: uma criança que é completamente dependente dos pais.

Velhice: uma criança que é completamente dependente dos filhos.

sexta-feira, 4 de setembro de 2009

Nostalgia?

Nostalgia?


Quem nunca sofreu a nostalgia de querer voltar à infância? Comer a sobremesa antes da hora; acreditar que se pode voar; não se preocupar com as “coisas de gente grande”; sentir-se orgulhoso ao descobrir algo – ainda que todos já saibam -; falar o que pensa sem temer grandes represarias – nunca passaram de um castigo ou algumas palmadas -; ter liberdade para sonhar quando se está acordado; entender que quilômetros, às vezes, são mais próximos que alguns metros; achar que é eterna cada nova paixão...

Eu! Jamais senti tal nostalgia. Não, não sou criança, já me consideram “gente grande”. O que sou, então? Sou poeta!

Que viva sempre essa minha alma sem limite, infinita, mas completa... Viva sempre essa minha alma pura, vívida, cheia de esperança... Viva sempre essa minha alma de criança, alma de poeta!


Guilherme Henrique Miranda
Santos, 4/9/2009