Olá, meu nome é Liberaldo. Ainda que você, leitor, não me tenha dado liberdade, farei um relato de uma odisséia que enfrentei para alcançar o objeto de maior valor para o ser humano: o direito de ser livre!
Como espermatozóide, lutei contra milhões de semelhantes, tive de ser o mais rápido naquela corrida pela liberdade, e eu venci. Cheguei à frente de todos, mas, para minha surpresa, não tive o prêmio esperado. Ao invés da almejada liberdade, deparei-me com uma prisão. Fui condenada a nove meses de prisão – acho que algum dos meus adversários era parente de alguém importante e, por isso, me trancafiaram –, em uma úmida, escura e abafada cela. Não aceitei a decisão tão facilmente assim. Exigi o meu direito de ser livre através de chutes e pontapés! Resultado? Enfim liberdade? Não, uma nova prisão!
Nessa nova etapa que tive de encarar, foi-me dada uma vestimenta diferente. Com essa nova roupa, eu pude sentir sensações que eu ainda não conhecia. Os carcereiros falavam sobre tato, audição, olfato, visão e paladar, algo assim. Não vou mentir, adaptei-me à roupa e gostei tanto que até hoje a utilizo, numa versão maior, lógico. Tudo seria perfeito, se não fosse o fato de não conseguir me locomover como eu gostaria. Com o passar do tempo, adquiri a habilidade que os carcereiros chamam de engatinhar e, depois, a de andar. Mesmo com esse “presente”, não alcancei a sonhada liberdade, o que me fez protestar com gritos e choro durante a madrugada. Aprendi a me comunicar com os carcereiros e, aos poucos, comecei a entender o mundo deles. Muitas vezes me parecia complicado, mas eu sempre tinha uma pergunta que resolvia essas dúvidas: “por quê?”. Esse conhecimento que eu estava adquirindo aquietou por algum tempo a grande busca de minha vida, porém logo voltei meus olhos ao foco e quis a liberdade.
Esperei durante anos, e finalmente entendi o que era a liberdade para os carcereiros. Por mais que eles me dissessem que ainda não era o tempo para eu me tornar livre, não liguei e, com todo o direito de minha adolescência, reivindiquei os meus direitos – como se isso existisse no mundo dos carcereiros – e pedi a minha liberdade. Eles tentavam me convencer que a liberdade de um prisioneiro criança é muito melhor que a liberdade de um prisioneiro adulto, mas não dei ouvidos. Sem escolha, o casal de carcereiros me liberou.
Vitória! Finalmente alcancei a tão sonhada liberdade. Agora que sou realmente livre, tenho de adaptar-me a algumas regras que me foram impostas sem eu nem ao menos ter assinado qualquer documento ou entrado em acordo com alguém. Agora que sou livre, sou obrigado a fazer coisas que eu não fazia e que, muitas vezes, nem quero fazer. Agora que sou livre, tenho o direito de ir e vir garantido por uma tal de “constituição”, mas só se assim me permitirem. Enfim sou livre! Enfim sou dono de mim! Enfim alcancei a total e plena liberdade!
Guilherme Henrique Miranda
Santos, 9/9/2009
2 comentários:
Muito Bom!
Mas será que existe mesmo a Liberdade?
As vezes acho que só um conto, uma fábula...
ótimo texto Gui, mais um texto para minha pasta Guilherme miranda :)
"Liberdade, palavra que o sonho humano alimenta
não há ninguém que explique
não há ninguém que não entenda”
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